Basement

Um papo sobre gestão de equity com Thiago Bonini, CEO da Vidia

A vida de uma startup é repleta de desafios até então pouco conhecidos por empreendedores de primeira viagem. Mas, como toda regra, existem as exceções – como é o caso do Thiago, que antes de fundar sua própria startup viveu o empreendedorismo por diferentes pontos de vista: sendo advogado, investidor, conselheiro e colaborador. 

Como advogado, trabalhou por mais de 10 anos com M&A. Na cadeira de investidor, atuou no mercado de Venture Capital representando os fundos Naspers e Yellow Ventures e se tornando membro do conselho da Movile (holding do Ifood). E para finalizar (ufa!), ainda arregaçou as mangas para viver a rotina operacional de uma startup de SaaS, a linte_. 

Esse é o currículo do CEO e fundador da Vidia, healthtech que oferece cirurgias a preços acessíveis para pacientes que não possuem planos de saúde. Fundada em 2020, com pouco mais de 1 ano de Vidia (perdão pelo trocadilho) e com sua plataforma lançada oficialmente em janeiro de 2021, em poucos meses a startup já facilitou mais de 50 cirurgias e recebeu um aporte liderado pelo fundo Canary – e temos orgulho em dizer que ela está digitalizando seu equity com o Basement.

O Thiago aceitou nosso convite para uma conversa (valeu, Thiago!) e compartilhou conosco os aprendizados das suas experiências passadas, com dicas e táticas para lidar com os desafios de equity de uma startup em crescimento. 

Tirando o nó da gravata

À primeira vista, tudo leva a crer que o Thiago é um advogado de formação empreendendo no setor da saúde. Mas logo no começo da conversa já deu para perceber que ele está mais para um empreendedor de formação que trabalhou por um tempo como advogado.

“Nunca me senti muito advogado. O advogado é um profissional técnico, e eu nunca me senti muito técnico – sempre tive um perfil mais generalista (o que não é propriamente uma qualidade, mas uma característica). E isso foi direcionando minha carreira para funções menos técnicas. Dentro do direito, fui trabalhar com M&A. Ao trabalhar nessa área, fiquei curioso para conhecer a realidade dos meus clientes, as empresas – até que chegou em um ponto no qual eu vi que aquilo não fazia mais muito sentido para mim.

E quando resolveu mergulhar de cabeça em uma jornada empreendedora, a escolha do setor de atuação veio muito por conta do impacto gerado – e um certo legado familiar, é verdade:

“Eu queria empreender, não sabia ao certo o setor, então comecei a estudar alguns. A última startup que eu tinha trabalhado era um SaaS, e lá eu aprendi muito – mas havia menos impacto na vida das pessoas do que eu gostaria. E ao selecionar setores de impacto meu funil chegou em saúde e educação – indústrias muito grandes e com muitas ineficiências no Brasil. 

Entre esses, saúde foi o que mais me tocou. Eu diria que teve também uma certa influência do meu falecido avô, que foi médico e minha grande inspiração no jeito de pensar. Foi uma forma que encontrei de levar um legado familiar de alguém que me inspirou.”

Desde 2020, quando assumiu o posto de CEO da healthtech, o Thiago tem recorrido aos aprendizados de suas trajetórias anteriores – principalmente da época em que atuou no mercado de Venture Capital. Para ele, essa bagagem tem sido fundamental para sua empreitada à frente da Vidia – principalmente por ter visto de perto aquilo que não dá certo: 

“O que mais influenciou na minha trajetória foi conhecer as razões pelas quais as startups não evoluem. Na Naspers a gente tinha uma visão muito privilegiada. Acompanhava de perto nossas investidas, que eram empresas mais maduras, como OLX, Buscapé e Movile. Mas também as investidas das investidas, que no começo eram empresas bem pequenas – como era o caso do Ifood, Vtex, Inloco (atual Incognia) e Hotmart. Várias dessas startups se tornaram empresas muito grandes – algumas inclusive unicórnios – e outras que pareciam ter um potencial gigantesco acabaram quebrando ou não tendo a trajetória que imaginávamos. 

Acabei presenciando muitos acertos e claro, muitos erros também. Para citar alguns: falta de cultura de produto, pouca atenção à cultura organizacional (empresas com turnover gigantesco), ausência de entendimento do cliente (muito centrado no produto e distante do cliente) e falta de foco (tentar abraçar o mundo quando seus braços ainda são muito pequenos).

E com isso, hoje eu me vejo com alguns papéis principais enquanto CEO da Vidia: moldar e nutrir cultura, traçar e ser guardião da estratégia e evitar os erros que já vi acontecerem em outros lugares.” 

Lidando com os primeiros desafios de equity

Um dos primeiros desafios societários para um empreendedor é a divisão inicial do cap table entre os fundadores do negócio. No caso da Vidia, esse processo foi leve – muito por conta do conhecimento prévio do Thiago em relação às boas práticas de mercado. 

Para nós foi relativamente tranquilo. Atuando no mercado de startups, eu já vi muita confusão e até brigas por conta dessa divisão. A gente tentou aplicar uma cartilha que aprendemos. E a primeira dica, que a maioria dos fundos dão, é não dividir o equity por igual. 

Por mais que seja muito mais cômodo e possa gerar menos discussão, a verdade é que as características e qualidades que cada fundador possui irá contribuir para o sucesso da empresa de maneira desproporcional – e isto deve estar refletido na divisão das participações societárias (por mais que eventualmente existam casos em que a divisão 50/50 acabe fazendo sentido). 

Então as dicas que eu tenho são: sistematizar essas alavancas (não precisa ser necessariamente numa planilha de Excel) e ter diálogos bastante abertos no começo – é fundamental não adiar as conversas difíceis, pois elas eventualmente vão surgir.”

Para completar, outra dica relevante dada pelo Thiago é em relação ao “founder vesting” (vesting de fundador). Na sua visão, é uma ferramenta importante para contrabalancear uma eventual saída de fundadores da operação do negócio.

O founder vesting é muito relevante e ao mesmo tempo negligenciado. Eu pessoalmente já vi muitas empresas boas ruirem por isso. 

Da mesma forma que os SOPs (stock options plans) têm o amadurecimento das opções (o vesting), as participações dos sócios também devem ter. Imagine um sócio que, depois de ter passado muito pouco tempo na operação, deixa a empresa possuindo uma participação muito relevante. Uma situação como essa acaba prejudicando a atratividade da startup para o investidor. 

O raciocínio é que grande parte do equity está comprometido com uma pessoa que não está gerando valor para a empresa – logo, essa parte do cap table não estará contribuindo para o sucesso do negócio. A maioria das startups não têm founder vesting e é algo que eu recomendo bastante.”

E o vesting não é utilizado somente com os fundadores do negócio. Mesmo com menos de 1 ano de operação, a Vidia já outorgou stock options para parte de seus colaboradores.

“Antes mesmo da empresa completar 1 ano, a gente já fez uma primeira outorga de stock options. Hoje, ⅓ da equipe tem opções, e temos muito orgulho disso.

O que a gente sentiu confortável para uma primeira outorga, foi entregar para as pessoas de maior liderança, mas acreditamos em uma abordagem mais ampla. Em um futuro próximo, nossa ideia é expandir as outorgas para 50% dos nossos colaboradores.” 

Engajando o time com stock options

Nas palavras do Thiago, um dos motivos que levaram à criação do SOP da Vidia é a intenção de fomentar uma nova relação de trabalho na empresa. A ideia é que o benefício crie um alinhamento de interesses entre a empresa e o colaborador, contribuindo também na hora de contratar novos talentos. 

“Aqui no Brasil ainda temos a cultura de patrão vs empregado: o que acho péssimo. Muita gente ainda pensa que é um jogo de soma zero – o que for bom para um é ruim para o outro. Já as stock options contribuem para uma parceria entre empresa e colaborador. Essa relação ganha-ganha tem tudo a ver com o que estamos construindo aqui na Vidia – inclusive com as nossas parcerias com os hospitais. Historicamente, os hospitais estão acostumados com jogos de soma zero com as operadoras de plano de saúde. Para o bem do setor, isso está mudando. No nosso modelo de parcerias com hospitais, quanto mais pacientes a gente leva para eles, mais eles ganham e a gente também. E, o mais importante, mais pessoas passam a ter acesso a saúde. E é o mesmo princípio das stock options.

Seguindo nessa linha, outro ponto relevante é a atração de talentos. Mesmo com recursos limitados, conseguimos atrair um time que nos orgulha muito. Infelizmente, no Brasil isso ainda é um benefício pouco valorizado, mas acredito que aos poucos vamos evangelizando – inclusive, humildemente me sinto um dos evangelizadores das stock options no Brasil.” (tamo junto, Thiagão!)

Além da expectativa de potencializar o engajamento de talentos, o Thiago também citou um terceiro ponto bem interessante (e pouco falado): o efeito multiplicador das stock options. Ele já havia trazido esse aspecto em nosso Guia de Stock Options no Brasil, mas dessa vez ele ilustrou esse efeito trazendo um relato pessoal. Nas suas palavras, foram as stock options que deram o impulso necessário para que ele resolvesse largar a carreira de executivo para empreender: 

“Eu só tive coragem de largar uma carreira executiva, que era muito confortável dentro de uma empresa como a Naspers, no momento que eu olhava para minhas stock options e pensava “eu posso arriscar – as coisas podem dar errado durante um tempo e ainda assim vai estar tudo bem.

Acredito que a grande maioria dos empreendedores tem mais coragem e apetite a risco do que eu nesse aspecto, mas na minha trajetória foram as stock options que me permitiram tomar um risco maior do que eu tinha assumido até então na carreira profissional.

Para mim foi fundamental e espero que também seja para outras pessoas. Eu inclusive falo pra galera no momento da outorga que aqui dentro tem muito espaço para empreender. Porém, se algum dia elas e eles quiserem empreender fora da Vidia, que as stock options sirvam como uma mola propulsora para isso. Tenho convicção de que em algum momento isso irá acontecer – um colaborador que cumpriu o ciclo todo dentro de uma startup e, ao final, recebe os frutos do seu trabalho na forma de equity, é muito mais propenso a empreender.” 

Mas, para que esse efeito multiplicador aconteça, é necessário que os colaboradores entendam bem o valor das stock options que estão recebendo. E mesmo com a experiência do Thiago no assunto, ele percebeu que seria necessário dar uma atenção especial à apresentação do benefício aos colaboradores.

“Mesmo sendo advogado, e tendo atuado durante meus 5 anos de Naspers como o responsável por cuidar das stock options de todas as empresas do portfólio LATAM, na hora de colocar em prática eu tive que buscar materiais sobre o tema. Inclusive, o guia que vocês fizeram é sensacional, assim como alguns conteúdos do Canary, que são nossos investidores. 

Pensei inclusive em um roteiro de como a gente iria comunicar ao time. Primeiro nós  fizemos uma conversa geral e depois partimos para o papo individualizado. Nesse momento, pontuamos o valor econômico – com cenários de valorização das opções. É aí que a pessoa percebe que, se tudo der certo, pode equivaler a algo como 10 anos de salário com base na atual remuneração.” 

E dentro do roteiro que montou para garantir que comunicaria as stock options de forma clara, o Thiago também recorreu a uma analogia – por sinal, fantástica:  

“Escolhi um membro do nosso time que é casado e tem um filho. Perguntei se ele confiava na sua esposa para ficar com seu filho enquanto estivesse longe. Ele disse que sim. Então eu perguntei o motivo, e ele respondeu que é porque os dois têm o mesmo nível de preocupação e interesse no bem-estar da criança.

Eu falei que a gente espera que eles vejam a Vidia como um filho. Porque quando eu deixo nossa filha Vidia com meu sócio Edu, eu não tenho receio – afinal o interesse é o mesmo. E espero que com o tempo a gente desenvolva esse senso de dono em todos da equipe.

Como você vai construir um negócio grande se somente duas pessoas tratarem a empresa como um “filho”? Tem que ter muita gente pensando como dono – com decisões descentralizadas e alta velocidade, com responsabilidade pelos resultados também.”

A Vidia no Basement

O Thiago optou por digitalizar toda a gestão de equity da sua startup no Basement. E um dos motivos para isso foi justamente o uso da nossa ferramenta de stock options – que permite que os colaboradores acompanhem a evolução das suas opções em tempo real. Na experiência do nosso entrevistado, essa transparência será fundamental para o engajamento dos beneficiários:

“Estamos empolgados para ver como os nossos colaboradores vão reagir à possibilidade de acompanhar a evolução das suas stock options através da plataforma. Tenho certeza que essa visibilidade fará com que eles valorizem ainda mais o benefício.  

Eu lembro que, nas investidas da Naspers, havia colaborador com stock options valendo mais de milhão e que a pessoa não tinha ideia disso – por pura falta de informação. E essa falta de transparência impedia a pessoa de valorizar o benefício e se sentir dona do negócio.” 

stock options Basement
Visualização do colaborador na ferramenta de gestão de stock options do Basement

Outro fator relevante para o uso do Basement foi a digitalização da gestão de cap table. Para o Thiago, esse é um tema negligenciado por muitos empreendedores – mesmo sendo vital para o futuro da startup. Por isso, optou por organizar seu “porão societário” logo nos primeiros meses da empresa, a fim de evitar erros que poderiam atrapalhar o crescimento do negócio:

“O gerenciamento do cap table e das diluições é um assunto super relevante. As pessoas subestimam sua real complexidade e seu verdadeiro impacto na vida de uma startup. Muitos empreendedores acham que é só emitir os documentos para a rodada – seja via mútuo conversível, SAFE ou mesmo equity – e com um cap table em uma planilha de Excel não tem como errar. Mas venture capital implica em vários cenários de diluição. Liquidation preference, anti-diluição, valuation pre e post-money, fully-diluted or not, etc – é fácil se perder dentro desse jogo.

Além do risco de o cap table não refletir a realidade acordada entre fundadores e investidores, imagine os fundadores perceberem que a vida societária da startup está uma bagunça no momento de passar por uma diligência para levantar capital. Pode adiar ou até inviabilizar um investimento. É o tipo de coisa que, se você faz certinho desde o começo, fica muito mais fácil.

Essa foi a nossa mentalidade aqui na Vidia. Ainda estamos com um baixo nível de complexidade e temos a possibilidade de organizar nosso equity desde o começo por um orçamento que cabe no bolso de uma startup. Essa é a razão primordial.”

O conselho final 

Para finalizar, o Thiago ainda deu uma dica para os empreendedores que ainda não tiraram seus planos de stock options do papel. 

“Infelizmente, no Brasil ainda temos alguns desafios: a ausência de regulamentação das stock options e também a falta de profundidade no entendimento do assunto – tanto do lado das empresas, como dos colaboradores. Mas, se ficarmos esperando o cenário 100% perfeito, nunca sairemos de onde estamos. Então minha dica – e a postura que adotamos na Vidia – é assumir certos riscos. 

Estamos em um momento no qual as stock options ainda são pouco desenvolvidas no país, sendo que o ecossistema precisa disso para se desenvolver. Eu gosto de casos como o da Loft, que deu equity para muitos colaboradores que entraram no começo da startup. Eles aprenderam demais nesse processo, e já falaram que erraram em alguns aspectos. Mas eu admiro muito a tomada de risco deles, afinal isso ajudou o ecossistema. 

Assuma um risco calculado, dentro das práticas de mercado, com cliffs e vestings adequados – mas assuma riscos. Cada um sabe da sua realidade, mas como empreendedor a gente já assume tantos riscos, por que não arriscar nesse assunto que traz tantos benefícios? O ecossistema precisa disso. (Viu só? Se eu ainda fosse advogado, jamais poderia falar isso! rs)


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Leia também: Como o Basement pode potencializar o impacto do seu programa de stock options

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